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05 de abril de 2017 - por Rodrigo Sena

O site foi criado e ajustado para que Tainara e eu pudéssemos colocar o que fôssemos produzindo. A ideia era que o site fosse alimentado com tudo o que fosse importante no decorrer da produção e, em seguida, recebesse o produto final (documentário) e os extras (ensaio fotográfico e outros).

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15 de maio de 2017 - por Rodrigo Sena

Optamos por trancar o TCC para tentarmos produzir algo de qualidade. Apresentar neste período seria loucura. Com o pouco que temos, o documentário não se sustentaria.

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27 de maio de 2017 - por Rodrigo Sena

Acredito que trancar o TCC tenha sido uma das melhores escolhas. Tanto para mim, quanto para Tainara e nosso orientador. Meu sobrinho nasceu com sopro no coração e talvez tenha que operar. Isso tem me deixado totalmente sem rumo. Não consigo prestar atenção nas minhas obrigações relacionadas ao curso e aos trabalhos das disciplinas. Deveria me dedicar ao TCC, correr atrás das fontes, procurar pessoas, mas os meus pensamentos só ficam em torno do meu pequeno. Só consigo rezar e torcer para que não haja necessidade de operar, ele é tão pequeno.

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18 de junho de 2017 - por Rodrigo Sena

A busca pelas vítimas tem sido bem difícil. As fontes secundárias que podem nos ajudar estão sempre ocupadas em reuniões ou não se encontram no local de trabalho. Trazer diversidade para o documentário também tem sido um desafio. Até o momento, temos 95% de mulheres brancas, classe média e estudantes. Entrei em contato com uma mulher de destaque em Mariana, em busca de vítimas negras. Ela me contou dois casos antigos, disse que no momento não lembra de nenhum atual, mas ficou de pesquisar e dar um retorno.

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20 de junho de 2017 - por Tainara Torres

Começo hoje com um processo mais ou menos temporal do desenvolvimento de um trabalho que me toma emocionalmente e politicamente. Algumas impressões  serão compartilhadas e talvez daqui eu faça meu ponto de partida. Pensei em produzir cada um desses dias, semanalmente um diário novo, ouvindo uma música diferente e a partir delas exprimir o que me vier à cabeça, ou quase tudo, mesmo que eu não saiba a tradução delas na maior parte das vezes. Meu pontapé é a canção Boulevard of Broken Dreams,  do Green Day.  
Inicio me lamentando por postergar a elaboração da nossa proposta. Apesar de difícil a decisão de adiar a produção do documentário, hoje percebo o quanto ela foi acertiva. Os dias não estão sendo dos melhores. Encontrar fontes é extremamente complicado, o silêncio engole e abafa cada vez mais essas vozes. Nós precisamos delas, e o desafio de chegar perto é cada vez maior. Rodrigo e eu temos um longo caminho pela frente.

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27 de junho de 2017 - por Tainara Torres

A música de hoje: Here Comes the Sun, do The Beatles.
Após uma semana de letargia e muita falta de inspiração eu ousei me forçar um pouco a continuar este projeto. As coisas estão um pouco estranhas eu diria. Me vejo diferente, insegura e com medo. Mas, pior que isso, estou com uma sensação de ‘não estar bem’. Aqui dentro tem vontade, mas por outro lado ela não parece ser suficiente; tenho vez ou outra conversado com o Rodrigo sobre nossas responsabilidades e trajetória até aqui. Sinto que partilhamos da mesma dificuldade de exprimir ou problematizar nossos sentimentos acerca do tcc e da vida.

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28 de junho de 2017 - por Rodrigo Sena

Ontem eu acordei de madrugada com uma dor muito forte. Fui até a policlínica, passei por uma rápida consulta e recebi remédio na veia. Ao que tudo indica, estou com uma pedra no rim. Não é o momento de ficar doente, tenho coisas do curso para resolver, preciso decidir algumas coisas do TCC com Tainara. Hoje acordei com dores novamente, dessa vez um pouco mais fracas, mas que, no decorrer da manhã, ficaram mais fortes. Pedi que Tainara me acompanhasse até a policlínica. No caminho até sua casa, recebi a informação de que meu sobrinho vai precisar operar; minha reação foi chorar. A dor se tornou pequena perto dessa notícia. E, se antes eu já estava sem rumo, agora eu não sei como vai ser.

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04 de julho de 2017 - por Tainara Torres

É início da noite, pelo menos pra mim. São agora 23:47. Eu percebi que tenho um tempo muito singular. Minha namorada costuma dizer que meu tempo é louco, sem regras. Eu não sei se entendo bem o que ela quer dizer. Não sei se é uma crítica, mas eu até que aprendi a gostar do meu jeito. Durante a semana eu conversei com algumas mulheres que podem me fornecer algumas fontes. Hoje eu li um pouco de um livro que fala dessa relação tão única da mulher com a natureza, mais precisamente com os lobos. A semelhança traçada pelos contos entre esses dois seres é rica e surpreendente. O livro é da Clarissa Pinkola Estes. Não sei se continuarei lendo, mas até agora vem me cativando bastante.
Ah, a música de hoje é Eu sou Neguinha, na versão da Vanessa da Mata.

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11 de julho de 2017 - por Tainara Torres

Mais um dia ou menos um, né!  Estou apática a algumas coisas. Tenho pensado muito no que produzimos até agora. Poucas fontes e principalmente as que temos são padronizadas. A ideia seria supostamente sair desse ambiente universitário, branco, heteronormativo. Precisamos pensar em alternativas que foquem em instituições. Porém, Mariana surge como mais uma vez um empecilho. Estou ouvindo, Beija eu, Marisa Monte.

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18 de julho de 2017 - por Tainara Torres

Involuntariamente, eu por vezes escolhia produções artísticas femininas. Artigos, livros, pinturas, fotos e hoje percebo que é pensado e escolhido. Ser espectador é uma forma de participação da produção, dado que penso nessas obras como não finalizadas. Música: Sons of Anarchy - Main Theme by Heavy Young Heathens.

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31 de julho de 2017 - por Tainara Torres

Música: Cássia Eller - Relicário. Confesso que ando muito perdida comigo mesma. Parece físico, mas os médicos dizem que é uma reverberação do emocional. Meus últimos dias foram baseados em idas ao hospital, policlínica e uma medicação que muda toda semana. Dói a garganta, dói a cabeça, a barriga, é estranho, parece que dói tudo. Dentro e fora do corpo.

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09 de agosto de 2017 - por Tainara Torres

Música: It’s Time - Imagine Dragons. Daqui há poucos dias vou passar pela formatura simbólica e escolhi essa música pra minha entrada, vai ser a primeira vez que todos nós (meus pais, irmãos e eu) vamos participar de uma formatura de graduação. Queria estar melhor, aproveitar mais esse momento, mas tem sido difícil. Falei pouco sobre nos últimos diários, mas os últimos meses foram extremamente complicados, tive dificuldade para coisas simples, como sair de casa, lavar a roupa, ver meus amigos, ir ao ICSA, assistir aulas. Queria dormir, dormir, dormir e ficar cada vez mais só no meu cantinho; ou para outros: caverninha. Maria é meu ponto de refúgio diário. Além de aturar meu desânimo cotidiano me faz sair de casa. Confesso que a única coisa legal da minha semana é pensar que sexta-feira vou pra casa dela.

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10 de setembro de 2017 - por Rodrigo Sena

No final do mês passado, o meu sobrinho foi operado. Os médicos estavam espantados com a forma como ele estava se recuperando rápido, mas, de repente, ele piorou e precisou ser operado novamente. No dia 2 deste mês, ele se foi. Estou totalmente desnorteado, sem vontade de sair de casa. Estou muito deprimido, não quero saber do curso, de TCC, de nada. Só quero ficar no meu quarto, vendo TV, tentando ocupar a cabeça e não pensar em besteira. Queria tanto ter tido a oportunidade de vê-lo crescer, ensinar a tirar foto, fazer dever de casa. Mostrar a ele o documentário.

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09 de outubro de 2017 - por Rodrigo Sena

Fomos ao Siame (Serviço Interprofissional de Atendimento à Mulher), em Ouro Preto, atrás de ajuda. Precisamos de mulheres negras para completar o número de depoimentos, tornando o documentário mais diverso. Porém, encontrar estas mulheres tem sido um desafio. Silvania Rossi, presidente do Siame, ficou de nos ajudar e se dispôs a gravar.

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20 de outubro de 2017 - por Rodrigo Sena

Tivemos uma reunião com Rafael, nosso orientador. E não foi uma reunião só com o orientador, mas com o amigo. Ele estava ali para nos ouvir, saber como estamos. Falei como tem sido para mim após a morte do Miguel (meu sobrinho), como tem sido difícil lidar com isso. Tainara também falou sobre alguns problemas que teve. Decidimos manter o tema do documentário, por mais que esteja difícil e que o tema seja delicado. Precisamos falar sobre isso, dar voz às essas mulheres.

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20 de outubro de 2017 - por Tainara Torres

Depois de um tempo sem escrever, hoje retomo. Não sei ainda explicar o que foram os últimos meses, estou num processo básico de compreensão, deles e de mim. As coisas têm melhorado. Retornamos também com as orientações do projeto e, que incrível! Tive vontade de guardar meu professor num potinho. Sentamos ao ar livre para dialogar as experiências dos dias passados, Rodrigo e eu. Contamos muitas das nossas angústias pessoais. E a parte mais interessante é que Rafael, nosso orientador, foi lá com esse intuito: nos ouvir; sem “puxões de orelha” pelos atrasos no andamento do documentário. É, eu vou guardar ele mesmo num potinho. Vou colocar ele e Maria no mesmo potinho. A música de hoje: Era Uma Vez - Kell Smith.

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06 de novembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Tiramos o dia para resolver algumas coisas. Fizemos algumas ligações, mas não conseguimos ir muito adiante. A presidente do Siame pediu que voltássemos ao instituto na segunda (13). A assistente social, também do instituto, não deu retorno. Aproveitamos para ver o programa da Fátima Bernardes do dia 27 de março deste ano. O programa foi produzido a partir do depoimento de uma mulher que estava na plateia no começo do mês. Depois desse depoimento, outras mulheres enviaram e-mails ao programa com seus relatos, que foram gravados em áudio por atrizes da emissora. Aproveitamos o programa para tirar algumas perguntas. Para fechar, fui atrás de um local dentro da universidade para gravarmos alguns dos depoimentos.

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09 de novembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Reunião com Rafael. Ele pediu que testássemos o local da nossa gravação. Um teste de luz, áudio e posicionamento da câmera. Pediu que procurássemos dados para usarmos no documentário e deu dicas de como conduzir os relatos. Decidimos ampliar os depoimentos, não ficar somente em Mariana e Ouro Preto. Decidimos, também, incluir relatos em forma de áudio, como foi feito no programa da Fátima, e relatos encenados por atrizes e/ou estudantes de Artes Cênicas, baseados nos depoimentos reais. Uma história em quadrinhos também será produzida a partir de um relato.

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20 de novembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Amanhã faremos nossa primeira gravação. Será na casa da vítima, para que ela se sinta mais à vontade. Ela pediu para não ser identificada, então optamos por fazer uma gravação em contraluz.

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21 de novembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Hoje gravamos o primeiro relato. Tentei me manter o mais invisível possível durante o depoimento. Fiquei olhando para a câmera enquanto a vítima contava sua história. Minha ideia é que, ao final de cada gravação, pergunte à entrevistada se minha presença incomodou. Neste caso não foi necessário. A vítima se antecipou e explicou que preferiu olhar para Tainara durante o relato, não porque minha presença a incomodava, mas porque era a primeira vez que contava perante um homem.

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25 de novembro de 2017 - por Tainara Torres

Agora já são 01:04. Estava deitada, quase dormindo, mas resolvi voltar e ficar aqui um pouquinho mais. Parece estranho, gosto de acordar para ouvir música. A de hoje, Til It Happens To You - Lady Gaga, traduzida como “Até Acontecer com Você”, me faz pensar ainda mais no trabalho. Principalmente nos desafios.

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25 de novembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Dia de gravação. É a primeira vítima que aceita ser identificada. O que é muito bom para o documentário. Conseguimos um pano preto emprestado, mas não conseguimos escurecer a sala da forma que queremos. Para piorar, o gravador deu problema, trazendo ruído para o áudio. A vítima se dispôs a regravar em outro momento, até porque ela acha que pode ficar mais à vontade na próxima e falar melhor. Mas não podemos contar a sorte, de que teremos a chance de regravar caso dê problema de novo.

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27 de novembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Fomos a Ouro Preto conversar com a presidente e a assistente social do Siame. A assistente ficou de tentar ajudar com novas fontes. A presidente nos convidou para acompanharmos a assinatura do acordo de cooperação para a criação da Rede Municipal de Enfrentamento à Violência contra a Mulher. O evento aconteceu no IFMG – Ouro Preto. Gravei parte do que aconteceu, talvez seja um bom material para o site. Tainara conversou com Tetê Avelar, uma das mulheres que participou da mesa, na expectativa de conseguirmos mais algum tipo de ajuda. Ela nos indicou o documentário Precisamos Falar do Assédio.

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02 de dezembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Dia de teste. Não deixaram a chave para abrirmos a sala que estamos usando para gravar. Comprei um pedaço de pano preto para tentar escurecer mais a sala. Testamos outra luz porque o led não aguenta ficar ligado o tempo todo, mas a luz não ficou boa. Precisamos achar outra fonte de iluminação.

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03 de dezembro de 2017 - por Rodrigo Sena

A impressão que eu tenho é que nós precisamos nos benzer. Estúdio em obras. O pano preto não está no Instituto. Para usar os equipamentos só com permissão. Fontes sumindo. Fontes secundárias indicando, indicando e não chegando a lugar nenhum. Gravações dando problemas. Prazo acabando. Ansiedade atacando. A ansiedade tem me trazido febre, dor de barriga, sangue pelo nariz. Quando me perguntam se estou bem, digo que sim, mas no fundo não estou.

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09 de dezembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Dia de gravação. Tainara comprou mais um pedaço de pano preto, se dessa vez a sala não ficasse escura, não ficaria mais. Duas atrizes interpretaram os relatos que recebemos. As duas se saíram muito bem. Se eu não as conhecesse, diria que foram elas as vítimas. De novo, tivemos problema com gravador. Mas deu certo captar pela filmadora. Enfim, alguma gravação boa.

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12 de dezembro de 2017 - por Tainara Torres

Hoje eu não quero escrever. Música: Primeiros Erros - Capital Inicial

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13 de dezembro de 2017 - por Rodrigo Sena

Para fecharmos as gravações a tempo, estamos tentando autorização para usarmos a sala aos domingos. Até para facilitar o lado das atrizes, que durante a semana estão ocupadas com faculdade e trabalho.

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18 de janeiro de 2018 - por Tainara Torres

Sei que há tempos Rodrigo e eu não escrevemos, mas esse processo de escrita e imersão no projeto é incrível e desgastante ao mesmo tempo. Imagino que possa haver um afastamento da nossa parte por agora. Estamos nos deparando com um processo um tanto quanto complicado emocionalmente. A vida de outras pessoas, outras histórias... Como cuidar de tudo e de nós? Tem sido um aprendizado imensurável. Em algum outro momento, longe desse, voltaremos para contar um pouquinho mais dessa jornada. Até aqui, nos desculpem pela ausência premeditada. Ah, antes que eu me esqueça, estou ouvindo Calum Scott - You Are The Reason.

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15 de fevereiro de 2018 - por Rodrigo Sena

Entregamos o documentário e o memorial. Sigo mexendo no material extra, espero que até o dia da banca já esteja tudo aqui, mas exportar e subir vídeo no YouTube são coisas que demoram muito.  Pelo menos isso eu posso ir fazendo com calma, sem prazo.

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21 de fevereiro de 2018 - por Rodrigo Sena

Gostaria de fechar esse memorial produtivo com um desabafo: o trabalho não foi fácil em nenhum momento, mas sempre tivemos a certeza do quão importante ele era, o que nos dava energia para não desistir. Poderíamos ter ido para a nossa zona de conforto, a fotografia, mas insistimos em levar adiante este documentário por sua extrema importância. A cada relato que recebemos, confirmávamos a necessidade de não deixarmos de contar essas histórias, de dar voz a essas mulheres. Esperamos que outras mulheres se sintam encorajadas a procurar ajuda, seja de uma amiga, seja de especialista, seja dos pais, e que os homens se disponham a ouvir sem julgamentos, sem questionar se a vítima estava usando roupa curta, se estava bêbada. A nossa apresentação acontece hoje. Já passei mal porque tenho problema de ansiedade, mas espero que tudo saia bem. Finalizamos o trabalho com a apresentação, mas o site vai se manter ativo, caso alguma vítima queira enviar seu relato. Se alguém quiser entrar em contato conosco, clique aqui.

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